quarta-feira, 8 de julho de 2009

Intervalo

Bom, gente, vou viajar daqui a alguns minutos para Fortaleza, e deixei logo 3 capítulos para começar. Por favor, comentem se gostaram ou não de cada capítulo e deem sugestões, pois isso nunca é demais. Eu vou tentar entrar na internet lá e publicar logo os próximos capitulos, mas não prometo nada, só que vai haver muito mais capítulo quando eu voltar. Beijos e obrigada, people!
Ana Paula B.

Capítulo três - Chão de vidro

“É a primeira vez que eu vejo isso...”, o velho disse, pasmo ao contemplar a cena. Vestia-se com um uniforme de jardineiro e estivera ocupado a manhã toda arrumando as plantas.
“Normalmente eles não deveriam acessar o site?”, o homem se perguntou. Tinha em média 25 anos, vestia um jaleco branco por cima da roupa com um crachá: Professor de Ciências – Ren Ichimoku.
“Era para ser assim...”, a mulher suspirou, mexendo no cabelo. Seus cabelos eram compridos e negros, seu rosto era invejado pelas outras mulheres, usava um uniforme vermelho de ginástica. “Mas eu imagino que isso não irá prejudicar a Donzela...”
“Mas é muito estranho...”, Ren comentou. “Bom, vou voltar para a minha sala. Tenho uma prova para a semana que vem, e o prazo é até amanhã”.
Os outros dois assentiram.
“Onde ela está, afinal?”, a mulher perguntou.
“A Donzela?”, Ren olhou ao redor.
“Bella?! Bella!”, os três olharam para a mesma direção. Uma garota desmaiava a poucos passos deles, junto a uma parede.
“Isabella Walker”, a mulher disse, correndo até ela. Ren e o velho a acompanharam.


“Pobre sombra envolta em escuridão. Tuas ações trazem dor e sofrimento à humanidade. Tua alma afoga-se nos teus pecados. De que forma desejas ver a morte?”

Donzela do... Inferno?
Eu senti minhas pernas perderem a força e logo meu campo de visão escureceu lentamente... a última coisa que ouvi foi a voz de Lizzy ao meu lado.



Eu estava em uma sala vazia, escura. Eu não conseguia ver as paredes, mas sentia estar presa ali. O teto não existia. Parecia ser tudo infinito. Eu estava sozinha, trancada. O ar que entrava em meus pulmões era desnecessário, como o ar que saía. Parecia que respirar não era necessário naquele lugar. Parecia que o ar sequer existia.
“Quem é você?”, uma voz feminina soou atrás de mim. Uma voz triste, aveludada, profunda... e incrivelmente magoada. Senti um arrepio ao virar-me para encarar a dona da voz. A Donzela do Inferno...
“Donzela... do Inferno?”, pronunciei as palavras sem conseguir me controlar.
“Por que está aqui?”, ela perguntou, seus olhos vermelhos mais vivos do que eu nunca havia imaginado estarem.
“Eu não sei...”, eu cambaleei para trás. “Eu apareci aqui... Você me trouxe aqui?”
Ela olhou para baixo, para o chão negro sob os nossos pés, e de repente ele se desfez, como peças negras de dominó caindo.
Mas eu flutuei sobre o chão vazio. Eu não sentia nada abaixo dos meus pés, mas eu estava ali, de frente para aquela garota... olhando-a de uma superfície invisível.
Então eu olhei novamente para baixo. Havia uma imagem abaixo de mim. Neve, caindo exatamente do ponto onde eu deveria estar pisando... caindo até uma montanha de neve lá embaixo. Como se um pedaço de vidro gigante sob os meus pés me separasse da imagem que eu via agora. Uma garota andando... cabelos louros quase brancos... lisos. Um casaco preto fofo, um gorro vermelho na cabeça... eu conhecia aquela garota. Amanda Norsten...
“Amanda Norsten?”, olhei para frente novamente, onde a Donzela estava parada, analisando minha expressão. “Por que está me mostrando ela? Ela acessou o site, mas... o que está...?”
A Donzela olhou novamente para baixo, e eu acompanhei seu olhar. Amanda tirou um boneco de palha preto do bolso e agarrou o laço atado ao pescoço dele. Ela ia selar o contrato...
“Não faça isso!”, uma garota surgiu atrás dela. Uma garota de cabelos acinzentados ondulados... compridos. Lisa Turner!
“Lisa Turner, a melhor amiga dela...”, sussurrei para mim mesma. “Era a pessoa que ela queria mandar ao Inferno... Lisa sabia...”
Virei-me para a Donzela. Ela continuava a encarar a cena.
“Então Lisa matou Amanda, mas Amanda puxou o laço?”, perguntei, a voz trêmula.
A Donzela não respondeu. Voltei-me para a cena.
“Por favor, eu não quero...”, Lisa suplicou. “Eu não quero ir! Eu prometo, eu consertarei tudo! Eu consertarei!”
Amanda hesitou, quase soltando o boneco, mas segurou-o com firmeza novamente. Outra pessoa surgiu atrás de Lisa. O namorado de Lisa, Brandon Wellston...
“Então o Brandon...”, eu não tive coragem de terminar a frase.
Eu o vi sussurrando algo no ouvido de Lisa e esta balançando a cabeça negativamente. Vi Amanda recuar alguns passos e tropeçar na neve escorregadia. Vi Brandon aproximar-se dela e segurá-la pelos braços...
“Pare!”, eu gritei, fechando os olhos com força. Minha voz ecoou na escuridão. “Eu já vi demais...”
“Duas almas foram enviadas ao Inferno ao mesmo tempo”, a Donzela disse. “E uma terceira alma será enviada em breve”.
“A alma de Brandon?”, eu perguntei. “Alguém viu o que aconteceu? Alguém além de mim?”
A Donzela não respondeu.
“Por que você faz essas coisas?”, eu perguntei. “Por que você...?”
Um ciclo de ódio nunca acaba.
Minha visão escureceu contra a minha vontade, novamente, e de repente eu já não pensava em absolutamente nada.



“Sim, eu soube que ela não estava passando bem. Não, não se preocupe, Sra. Benson. Eu cuidarei dela. Aliás, os responsáveis já foram avisados? Sim, está bem. Eu esperarei”.
Abri os olhos lentamente, sentindo-os arder enquanto a luminosidade avançava para eles. A enfermeira da escola, Srta. Harbross, estava sentada em uma escrivaninha, digitando no computador. Eu estava deitada em uma cama desconfortável da enfermaria, em uma das cabines da sala.
A enfermeira se esticou na cadeira e virou-se para trás, olhando-me imediatamente. Sorriu.
“Vejo que já está acordada...”, ela se levantou, vindo até mim. “Como se sente agora... Isabella Walker, não é?”
“Sim”, assenti fracamente. Havia borboletas em meu estômago ou algo assim? Ele parecia estar se revirando. “Eu estou bem”, olhei ao redor da sala vazia. “Eu desmaiei?”
“Pelo jeito, sim”, a Srta. Harbross puxou uma cadeira para perto da cama, sentando-se a poucos centímetros do meu rosto. “Diga-me: você fez algo de diferente, algo anormal na sua rotina, nas últimas horas? Ou talvez muito esforço físico ou deixou de dormir... você parecia cansada, Isabella”.
“Bem, eu...”, senti algo nojento subir pela garganta e engoli. O gosto não era nada bom. Fiz uma careta. “Eu não dormi muito bem nessas férias... mas cansaço nunca me afetou assim”.
“Sempre há uma primeira vez”, a enfermeira sorriu docemente. “Bom, se você já estiver em condições de levantar, já pode ir para casa. Não acho que a causa do seu desmaio tenha sido muito séria. Apenas durma cedo, coma coisas leves...”
Eu tentei me sentar. A coisa gosmenta subiu novamente a minha garganta. Fiz outra careta. A dificuldade de engolir o que quer que estivesse subindo aumentou.
A enfermeira me encarou com uma expressão preocupada.
“Sente enjôo?”, perguntou.
“Um pouco... sim”, forcei um sorriso. “Mas acho que estou bem”.
“Precisa ir ao banheiro?”, a enfermeira me ajudou a me levantar.
“Não...”, a coisa nojenta subiu. “SIM!”



“Eu a vi”, falei. “Eu a vi, Peter. A Donzela do Inferno. Ai Enma, não é?”
Ele enrijeceu à minha frente.
Estávamos sentados em uma mesa na pizzaria onde ele trabalhava. Era tarde, no mesmo dia em que eu havia desmaiado. Peter vestia seu uniforme azul e vermelho da pizzaria, assim como um boné ridículo com uma pizza sorridente em cima.
“Como ela estava vestida?”, ele perguntou, sua voz meio rouca.
“Como assim?”, encarei-o confusa. “Eu nem me importei com a roupa que ela estava vestida! Eu falei com ela, ela me mostrou...!”
“Ela usava um kimono?”, ele me interrompeu. “Ou um uniforme escolar preto?”
“Não sei!”, respondi. “Não quer saber o que ela me mostrou?”
Ele suspirou pesadamente.
“Fale”.
“Ok”, peguei ar. “Estávamos no completo breu, eu não via paredes à minha volta, nem sequer sabia se havia teto. O que havia acima de mim parecia tão infinito quanto o céu. A Donzela estava a poucos passos, olhando minha expressão, e me perguntou quem eu era e o que estava fazendo ali. Mas acho que ela me levou até lá. Então ela olhou para baixo, para o chão, e de repente era como se ele de alguma forma não existisse. Eu o vi caindo, e não sentia mais nada abaixo de mim. Eu não caía, era como se eu flutuasse em meio ao nada. Então uma cena surgiu abaixo dos nossos pés. Estava nevando e era uma parte do pátio da escola, onde Amanda foi encontrada morta. Peter”, eu me inclinei para ele. “, eu vi Amanda Norsten. Ela ia puxar o laço do boneco preto, mas então Lisa Turner, a melhor amiga dela, apareceu e implorou para que ela não puxasse o laço. Ela sabia que seria mandada ao Inferno, Peter!”
“Então Lisa matou...?”
Não! Não! Quero dizer, de uma certa forma, sim. Mas indiretamente. Ela não usou as próprias mãos...”, encostei-me no encosto da cadeira. “Brandon apareceu atrás dela e os dois ficaram cochichando entre si. Brandon também sabia do destino da namorada e não queria permitir isso, então... ele a matou. Matou Amanda Norsten”.
“Mas ela puxou o laço antes que perdesse todas as forças e...”
“... e enviou Lisa ao Inferno, como vingança também por sua morte”, assenti. “Sim, foi isso o que houve”.
“E depois Brandon amarrou o laço vermelho na ponta do dedo de Amanda”.
“É, mas isso não é importante”, suspirei. “Eu só gostaria de saber por que Amanda colocou o nome de Lisa no site, inicialmente. Ela não teria como saber que o namorado da amiga iria matá-la no futuro”.
“Não mesmo”, Peter se levantou. “Mas isso também não é importante. O que está feito, está feito. E acabou. Vamos deixar a polícia descobrir por si só quem é o assassino”.
“Mas, Peter”, eu o chamei antes que ele desse as costas.
“O quê?”, ele se virou.
“A Donzela disse outra coisa”.
Ele voltou a se sentar. “O que ela disse?”
“Um pouco antes de eu acordar, eu acho”, respondi. “Ela disse que duas almas foram enviadas ao Inferno ao mesmo tempo... e uma terceira será enviada em breve”.
“Uma terceira?...”, sua expressão se esclareceu. “A alma de Brandon”.
“Sim”, assenti. “O ciclo do ódio nunca acaba... Alguém vai colocar o nome do Brandon no site. Alguém que viu a cena, talvez”.
“Quem mais viu a cena?”, Peter se perguntou. “Estavam todos indo para as primeiras classes, naquela hora”.
“Sim, eu sei”, eu assenti. “E eu perguntei isso à Donzela, mas ela não respondeu. Foi quando eu acordei, eu acho”.
Peter mordeu os lábios, levantando-se novamente.
“Ok. Seja lá quem viu a cena, vai enviar mais cedo ou mais tarde o nome de Brandon...”, ele olhou para mim. “... e você vai saber.”




De que forma... desejas ver a morte?

Capítulo dois - Neve vermelha

A segunda-feira amanheceu tão fria quanto o último sábado. O tempo estava tão nublado que eu duvidava que a neve não fosse chegar hoje. Na verdade, chegava a ser bizarro começar a nevar no fim do verão. Uma mudança de temperaturas assustadora.
Na escola, qualquer ponto que eu olhasse, eu via alunos e funcionários vestindo casacos grossos e gorros de lã na cabeça, assim como cachecóis das mais variadas cores. O uniforme escolar já não podia ser notado entre os alunos, e eu imaginei com uma careta a reação da diretora ao contemplar aquilo.
“Bom dia!”, Lizzy se aproximou de mim, animada. Vestia um casaco forrado, um dos mais finos que eu vira naquele dia e, mesmo assim, parecia completamente confortável com a temperatura fria. Paris devia estar mesmo fria naquele ano.
“Bom dia”, eu sorri de volta.
“Está procurando alguém?”, ela notou meus olhos grudados na multidão aglomerada no pátio descoberto da escola.
“Não, imagina...”, eu me ergui nas pontas dos pés, esperando ter uma visão mais ampliada.
“Ok... quando encontrar quem está procurando, me avisa”, ela se afastou. “Ah, e se for um novo namorado, combina com ele para um encontro de casais!”
Eu revirei os olhos, ignorando os olhares atraídos a mim após a fala de Lizzy. Ela praticamente gritou aquilo...
“Eu não sou um novo namorado, sou?”, uma voz familiar soou divertida atrás de mim.
Eu fiz uma careta.
“Não, Peter...”, virei-me para encará-lo. “Você nem se encaixa na categoria ‘amigos’”.
Ele era alguns centímetros mais alto do que eu, então eu tive novamente que esticar o pescoço.
Tinha 17 anos, estava no terceiro ano do Ensino Médio, e não desgrudava de mim desde que descobriu sobre o meu querido “dom”.
Peter Sanders usou a Correspondência do Inferno há alguns meses contra o próprio pai. Dizem que ouviam gritos e gemidos femininos vindos de sua casa, e sua mãe era encontrada logo depois com ataduras e lugares roxos pelo corpo. O pai de Peter batia na mãe, e isso enfurecia o filho cada vez mais, a ponto do ódio pelo pai ser grande o suficiente para chamar a Donzela do Inferno. No entanto, ele hesitou em puxar o laço e tentou convencer a mãe a denunciar o pai para a polícia. Mas ela não quis – ela amava o marido mais do que tudo no mundo, talvez mais do que o próprio filho. Peter puxou o laço após seu pai empurrar a mãe pela escada e ela quebrar as duas pernas. O pai foi para o Inferno imediatamente, e Peter recebeu uma marca no peito, para que ele lembrasse, sempre que se olhasse no espelho, de que iria para o Inferno quando morresse, e não podia impedir isso.
Alguns dias depois, a mãe foi encontrada morta no quarto de hospital onde foi internada ao quebrar as pernas. Ela se matou com uma caneta esquecida por uma enfermeira na mesa-de-cabeceira da cama, enterrando a ponta do objeto na garganta, e deixando seu filho órfão.
Peter nunca se perdoou por isso. Ele amava o pai, e sabia que mesmo odiando-o ao mesmo tempo, ele não tinha o direito, aliás, ninguém tinha o direito de mandar outra pessoa ao Inferno. Seus pais estavam mortos por sua culpa, e ele tinha certeza de que poderia ter encontrado outra solução para aquele problema, caso estivesse mais disposto a procurar, e não pensasse em vingança como a única opção. Vingança não levava a nada. Apenas a dor e sofrimento, e uma vida sem sentido.
Peter decidiu morar sozinho, sendo já de maioridade, e, para sustentar a si mesmo, recusando ajuda dos vizinhos e da família, abandonou a escola - a mesma em que eu estudava - e arranjou um emprego de meio-período em uma pizzaria próxima à sua casa. Algum tempo depois, nós nos conhecemos em seu trabalho. Eu tentava convencer uma garota, amiga minha, a desistir da vingança com a Donzela do Inferno – ela desejava mandar sua vizinha ao Inferno, por razões que não quis me contar. No final, ela puxou o laço e, após ter selado o contrato, mudou-se de cidade com a família. Mas Peter nos atendeu em nossa conversa na pizzaria, e ouviu boa parte dela.
Depois de a garota ir embora, eu fiquei por mais algum tempo, pensando no que fazer depois daquilo. Peter se aproximou e me perguntou o que eu sabia sobre a Donzela do Inferno. Nós conversamos e ele me contou sua história. Ele soube do meu dom e parecia determinado a ajudar os outros ao seu redor, para que não tivessem o mesmo destino que seus pais e ele mesmo.
Isso foi no começo de junho, e desde então a nossa relação não passou de apenas profissional. Eu descobria quem chamava a Donzela do Inferno através de um barulho semelhante a sinos, que eu ouvia ao passar pelo “cliente” da Donzela. Nós investigávamos e tentávamos convencer a pessoa a não desfazer o laço. No entanto, até agora não conseguimos impedir sequer um cliente de desfazer o laço.
Encontrávamos as causas mais absurdas e hipócritas e não conseguíamos impedir. Em um ou dois casos eu hesitei em tentar impedir, notando que o odiado de cada um desses casos merecia ir ao Inferno. Mas Peter não aceitava isso. Ele sabe que ninguém merece ser morto por outra pessoa, mesmo que tenha acabado com milhões de vidas, e tenta mostrar isso a outras pessoas – inclusive a mim. Eu ainda não estou completamente convencida, mesmo depois de tanto tempo.
Esse dom apareceu de repente. Eu não nasci com ele, tenho certeza. Eu apenas... acordei com ele. Na verdade, foi exatamente isso: um pesadelo. No sonho, eu estava sozinha em um campo cheio de flores. Era crepúsculo. As flores eram estranhas... as pétalas eram separadas umas das outras, como se formando um tipo de coroa. Eram vermelhas, e lindas. A alguns metros de mim, uma garota estava sentada, rodeada pelas flores. Ela não sorria, mas tinha uma expressão meio triste, meio... vazia. Não pude sentir nada mais do que pena... e curiosidade. Ela tinha olhos vermelhos brilhantes e seu cabelo liso e negro comprido caía por seu corpo, sobre as flores. Ela ergueu os olhos para mim, e logo depois o barulho de sino soou em um volume insuportavelmente alto, capaz de estourar meus ouvidos. Eu caí de joelhos e olhei para frente. A garota se levantava e dava as costas para mim. Eu gritei algo a ela, mas ela não parecia escutar, ou simplesmente me ignorava. Ela desapareceu diante de meus olhos, e eu acordei.
Isso foi alguns dias antes de eu conhecer Peter, e eu não sabia absolutamente nada sobre o site Correspondência do Inferno. Para mim, era apenas um rumor – não era verdade. Mas em alguns livros eu via uma imagem, apenas um rascunho mal feito, da Donzela do Inferno – idêntica à garota que eu havia visto em meu sonho.
Eu nunca mais a havia visto, mas ainda tinha essa esperança. A esperança de falar com Ai Enma, a Donzela do Inferno.



“Pensei que não viria mais à escola”, eu comentei a Peter, as sobrancelhas arqueadas.
Ele sorriu. “Decidi ajudá-la por aqui também”, ele disse. “E não deixá-la desistir tão facilmente”.
“Bom, sinto muito”, respondi. “Perdeu o seu tempo. Não somos da mesma sala e você não tem controle sobre as minhas aulas.”
“Sei que você dá conta das duas coisas”, ele respondeu. “De afazeres escolares normais”, ele olhou por cima de mim, para os alunos que ainda se reencontravam pela primeira vez após dois meses de férias de verão. “e de impedir o envio de algumas almas ao Inferno”.
“Algumas?”, ri alto. “Peter, até agora não pegamos nenhuma”.
“Bom, estamos tentando”, ele deu de ombros. “Se ainda não deu resultado, significa apenas que precisamos nos esforçar mais. Isso não é ótimo?”
Revirei os olhos.
“Sr. Sanders!”, a coordenadora do Ensino Médio se aproximou de nós. “Sr. Sanders, ficamos felizes ao saber sobre a sua volta. E principalmente depois de sabermos que recebemos um novo assistente na biblioteca”.
“Você?”, arregalei os olhos para ele.
Ele assentiu, sem olhar para mim.
“Achei que poderia ajudar em trocar da nova oportunidade, Sra. Benson”, ele respondeu.
“Ah, mas suas notas altas já são o bastante! Realmente não precisava!”, a coordenadora olhou para mim com uma expressão de orgulho. “Sabe, Srta. Walker, a senhorita deveria seguir o exemplo do Sr. Sanders. Um aluno responsável, essencial em nossa instituição de ensino. Além de ter uma das maiores médias da nossa escola, se voluntariou por opção, sem ao menos precisar disso. Foi um prazer dar uma bolsa de estudos ao senhor”.
Ele assentiu, o sorriso agradecido.
“É um prazer ser voluntário nessa instituição de ensino”, ele respondeu.
“E deve ter sido um prazer mandar o pai ao Inferno...”, resmunguei baixinho, sem pensar. Ele me beliscou no braço e eu gemi.
“O que disse, senhorita?”, a coordenadora voltou-se a mim.
“Disse que é um prazer ser amiga dele, um aluno tão responsável e essencial para a nossa sociedade”, sorri.
Ela assentiu e se afastou.
“Deve ser um prazer ser tão irônica”, ele revirou os olhos.
“E é mesmo”, concordei, também revirando os olhos.
O sinal tocou e os alunos à nossa frente começaram a se afastar, juntar-se em grupos pequenos e adentrar a escola.
“Por que se voluntariou para ser assistente da bibliotecária?”, eu perguntei a ele, ignorando o sinal.
Ele andou até o corredor e eu o acompanhei.
“Porque eu consigo a chave da rede do computador da escola e tenho acesso total a todos os arquivos dessa escola”, ele parou. “Bem, quase total.”
Balancei a cabeça.
“E não tem nada a ver com ser puxa-saco, tem?”
“Isso não foi ironia”.
“Foi uma pergunta”.
Ele parou em frente ao seu antigo armário e o abriu.
“Não tem nada a ver”, ele respondeu. “Aliás, é melhor se apressar, Srta. Walker, ou vai acabar se atrasando para a sua primeira aula e sujando seu currículo”.
“Você é deprimente, Sanders”, revirei os olhos e dei as costas, me apressando pelo corredor.



“Já posso marcar o encontro entre casais?”, Lizzy perguntou para mim com um olhar malicioso na primeira aula.
Revirei os olhos.
“Peter Sanders”, sentei-me ao lado dela. “e eu não temos absolutamente nenhum relacionamento que não profissional”.
“Profissional deriva de namoro, não é?”, ela riu.
Revirei novamente os olhos.
“Eu decidi ajudá-lo na pizzaria”, respondi. “Pode ser bom para mim ter alguma experiência como garçonete”.
“Então vai ser essa a sua carreira?”, Lizzy fez uma careta.
“Não. Mas já é alguma coisa”.
Ela deu de ombros, indiferente, e virou-se para frente.
Lizzy não sabia sobre o que eu fazia com Peter. Ela não sabia nada sobre a Correspondência do Inferno. Aliás, eu duvidava que ela achasse que fosse real mesmo e eu não via como ela poderia testar essa lenda urbana. Ela era incapaz de sentir ódio mortal por qualquer ser no universo. Até mesmo se esse tal de David a enganasse e roubasse o seu dinheiro, acabando com sua reputação, ela não iria querer mandá-lo ao Inferno – iria querer nunca mais vê-lo, e só. Ela se satisfaz com pouca coisa, eu a conheço.
Mas eu nunca contei a ela por que eu não sabia como provar sem ela me achar uma completa anormal. E se ela espalhasse por aí? E se ela risse de mim e não me levasse mais a sério? Poderia haver qualquer reação vinda dela, disso eu não duvidava.
Eu olhei para a janela da sala de Álgebra. Começava a nevar lá fora. A neve cobriria toda a superfície limpa do pátio da escola antes do almoço. Eu imaginei as guerras de bola de neve que com certeza haveriam até o fim do dia. Talvez até o fim da semana, caso durasse tanto assim – eu duvidava.
Então eu vi algo ao longe, no final do pátio. Algo... estranho, eu poderia apostar. Algo vermelho.


Um ciclo de ódio é capaz de destruir gerações de uma família, até uma cidade inteira. Um ciclo de ódio nunca acaba.


Não houve guerra de bola de neves. Uma aluna foi encontrada morta a facadas no canto mais afastado do pátio da escola. Estava coberta de neve quando a encontraram, na hora do almoço. Eu a havia visto sangrar na aula de Álgebra, ao longe, pela janela, mas pensei não ser nada.
Era Amanda Norsten, que foi encontrada com um laço vermelho brilhante amarrado ao pescoço. Amanda Norsten era a mais nova cliente da Donzela do Inferno. Eu havia pesquisado sobre ela durante as três últimas semanas de férias, tentando achar alguma razão para ela querer mandar sua melhor amiga ao Inferno. Pelo jeito ela desfez o laço, mas morreu logo depois.

Capítulo um - A primeira

“Isabella!”, ela correu até mim, abraçando-me. “Minha nossa, como você mudou! Como está?”

“Estou ótima, Lizzy, obrigada”, examinei-a de cima a baixo por um instante. Vestia uma calça jeans desbotada com uma blusa de frio, com mangas. Um lenço estilo francês estava jogado ao pescoço. Amarrada à cintura, uma jaqueta jeans clara dava-a um ar mais rebelde. “O que houve com você?”

“Nada... você achou...” ela olhou a si mesma, meio sem graça. “... ruim?”

“Não, não!”, eu ri. “Está ótimo em você! É uma melhora.”

Ela sorriu lentamente, voltando a me abraçar.

Da última vez que eu vira Elizabeth... Lizzy, como ela gostava de ser chamada... ela era obrigada a se vestir exatamente como seus pais mandavam. Um vestido preto de mangas e gola alta; meia calça preta e sapatilhas pretas e completamente sérias; seu cabelo liso, castanho-claro, tão bonito... mas penteado de forma tão séria com uma tiara preta alinhada um pouco acima da testa. Aquelas roupas não tão certinhas certamente eram uma melhora.

“E como foi o seu verão?”, eu perguntei alguns minutos depois, ambas sentadas em um banquinho da praça em frente à escola.

Era manhã, uma manhã fria no final de agosto, o que era uma novidade. Nossas aulas começariam dali a dois dias, mas devíamos comparecer a uma reunião prévia na escola. Eu não esperava encontrar Lizzy ali – ela deveria estar na França com sua família materna, aproveitando o friozinho que fazia por lá nessa época do ano. Isso já era outra novidade, que eu duvidava não ter algo a ver com sua mudança de roupa.

“Ah, foi ótimo!”, ela riu. “Eu fugi com o David, um americano que encontrei por Paris. Foi como você disse, Bels! Eu precisava de um pouco de aventura! Precisava sair de casa um pouco e... veja! Eu estou outra pessoa, não estou?”

“É... está sim”, sorri.

Ela jogou seu cabelo para trás com uma das mãos, como se quisesse ainda outra prova da diferença entre a antiga e a nova Lizzy.

“E como é o David?”, eu perguntei, ansiosa. “Você não me mandou nenhum e-mail! Nem um cartão-postal, e você prometeu me mandar um!”

Ela riu alto, atraindo a atenção de um casal de adultos sentados em outro banco da praça, alguns metros à nossa frente.

“Ele é lindo! E, principalmente, é o tipo de garoto que faria meus pais enlouquecerem!”, ela riu novamente, e eu notei um certo brilho especial em seus olhos azuis-escuros. “E eles enlouqueceram, sabe? Graças ao David, estou finalmente livre! Meus pais me ofereceram dinheiro, mais viagens para a Europa, roupas caras de grife, mas, não, eu não aceitei! Aliás, eu sequer pensei em aceitar! Eu não posso resistir, Bella, eu acho que eu o amo... eu acho que eu amo o David.”

Eu a abracei.

“Que lindo, Lizzy... parabéns”, eu sussurrei em seu ouvido, sinceramente feliz por minha melhor amiga.

“É a sua vez”, ela disse, me afastando lentamente. “Como foi o seu verão?”

Eu sorri levemente.

“Nada demais. Fiquei em casa, naturalmente, e meus pais não vieram. Mas me mandaram um e-mail, e um cartão postal, o que nem você fez por mim.”

Ela suspirou, quase revirando os olhos, e sua expressão transformou-se em uma expressão de pena, o que não me agradou nem um pouco. Eu odiava aquela expressão – a expressão que muitos faziam ao me notar sozinha nas reuniões de pais e mestres, ou ao me ouvirem contar que meus pais não irão me visitar nos próximos feriados ou... ou algo que envolva meus pais e um “não” como resposta a alguma pergunta sobre “vir visitar sua única filha”.

“Eu sinto muito”, Lizzy disse. “O que houve dessa vez?”

“Meu pai teve que viajar... em uma reunião muito importante”, forcei um sorriso. “Mamãe não quis abandoná-lo sozinho com aquela gente, então ela foi com ele. Há mais detalhes no e-mail que eles me mandaram, mas eu não precisei ler até o final para saber que eles não viriam.”

Lizzy bufou, logo forçando um sorriso fraco, talvez com a intenção de me animar.

“Ok, eles devem ser uns idiotas”, ela disse. “Quero dizer, meus pais são super ocupados. Meu pai precisa, e mamãe deve apenas gostar de não ter tempo para respirar direito. Mas nem por isso eles me abandonam nas férias de verão. Dois meses para passar comigo, chega a ser até entediante e eu fico enjoada de ver as caras deles logo no final de julho. O mês seguinte já se torna uma tortura.”

Eu ri baixinho. Era quase uma obrigação rir com ela, já que era a única que tentava me fazer rir, àquela altura. Eu era conhecida na escola como “aquela que nunca ria” ou “aquela que nunca se divertia”, e alguns diziam que a culpa não era inteiramente minha. Diziam que meus pais não haviam me dado uma infância digna, e que, por isso, eu havia me tornado o que era agora. “Aquela que não se divertia” era uma boa definição, até em minha opinião.

“Então, o que você fez em casa?”, Lizzy voltou a perguntar.

“Basicamente nada”, balancei a cabeça. “Na verdade, o tempo passou rápido. Mesmo. Acho que os livros ocupam espaço suficiente na minha cabeça e me fazem incapaz de pensar em algo mais”.

Ela ficou boquiaberta.

“O que anda lendo?”, perguntou. “Minha avó incorporou em você ou algo assim? Essa sua última frase foi muito...”

“Sei o que quer dizer”, sorri. “Não é a primeira a me falar isso. Mas tudo bem. Eu estou absolutamente bem. É sério”.

“Ok... só tenta começar a falar como uma adolescente normal. Dezesseis anos, Bels. Se continuar assim, vai falar como o Sr. Klints assim que completar vinte anos.”
Dessa vez eu ri de verdade. O Sr. Klints, nosso professor de Ciências, era o homem mais estranho do universo. Falava como uma máquina, de forma ensaiada, como se estivesse vivo há tanto tempo que já tivesse dito mais de cem vezes a maioria das suas frases brilhantes. Não havia como explicar o jeito que ele falava... era só... assustador.

“Ok, vou tentar ‘me controlar’”, eu ri novamente.

Ela me acompanhou.



“O que você encontrou?”

“Nada muito esclarecedor”, assoprei um pouco da poeira sobre a página do livro. Algumas palavras mancharam. “Ah, droga.”
“O quê?”, sua voz era alarmante ao telefone.

“Nada... só algumas palavras... elas mancharam”.

“Você assoprou a poeira. Não assoprou?”, ele parecia decepcionado.

“Assoprei”, suspirei. “Mas não importa. Peter, eu não encontro nada. Vamos desistir”.

“Não”, determinação. “Você sentiu, não sentiu? Aquele barulho de sinos. Você ouviu”.
Não respondi.

Não ouviu?”, ele aumentou o tom de voz.

“Sim”, revirei os olhos, recolocando o livro sobre a mesa. “Sim, eu ouvi.”

“Ótimo.”

Encarei o teto do meu quarto, pasma.

Ótimo?! Isso nunca chegaria a ser ótimo, Peter! Não temos uma única pista!”

“Temos, sim”, ele insistiu. “Sabemos o que está acontecendo, sabemos com quem está acontecendo... agora só precisamos saber por que ela acessou o site! Deve haver algo no álbum escolar das duas...”

Suspirei, cansada. “Segunda-feira começam minhas aulas, Peter. Não vou ter mais tempo para essas pesquisas. Acha que consegue se virar sem mim um pouco?”

“Não”.

Revirei novamente os olhos.

“Acha que pode tentar?”

Ele hesitou.

“Sim...”

“Ótimo”.

“Mas você ainda tem dois dias, Isabella. Vai conseguir alguma coisa até lá”.

“Não mesmo!”, levantei-me da cama. “Eu passei as férias todas trabalhando nesses dois casos, Peter! Cheguei a ficar feliz por não ter meus pais por perto; pela primeira vez, eu fiquei feliz por isso. Será que não mereço um único fim de semana de descanso?”

“E deixar alguém ir para o Inferno?”

Respirei pesadamente.

“Ok, está bem, tudo bem, ótimo, perfeito! Satisfeito?”

“Na verdade, não”.

“Ah, vá se...!”

“Isabella?”, eu ouvi uma voz vinda do corredor.

“Preciso desligar agora”, eu disse ao telefone, apressada. “Tchau”.

“Ah, Isabella”, minha vizinha, Sra. Jones, adentrou o quarto timidamente. “Desculpe entrar assim...”

“Não, tudo bem”, eu sorri, pondo o telefone no gancho, na minha mesa-de-cabeceira. “A senhora já é da casa, Sra. Jones. Além disso, eu já estava terminando a ligação. Mesmo.”

Ela sorriu, sentando-se à beirada da cama.

Era uma mulher alta e magra, com cabelos curtos e lisos, castanhos, que mal alcançavam os ombros. Normalmente usava uma saia comprida até o joelho e uma blusa de mangas até os cotovelos, mas naquela hora trajava um vestido florido, alegre, com mangas compridas.

Sentei-me ao seu lado.

“Eu estava pensando se... se você gostaria de tomar um chocolate quente ou algo assim. Normalmente seria um sorvete, mas, minha nossa, está tão frio...”, ela riu.

Eu assenti.

“Seria ótimo, na verdade. Eu preciso relaxar um pouco. Não tenho me divertido muito nessas férias... mas sei que nunca é tarde para isso”.

Sra. Jones concordou.

“Eu a compreendo, querida”.



Eu sabia que eu precisava relaxar. Eu não fazia isso havia semanas e minhas noites de sono apenas diminuíam na quantidade. Eu precisava descansar, e essa necessidade já se mostrava fisicamente para as pessoas ao meu redor. Peter, no entanto, não me deixava descansar. E ele estava certo. Porque eu precisava continuar e nunca perder o ritmo. Pessoas eram mandadas ao Inferno a cada dia, ininterruptamente, e seria eu boa o bastante para acabar com isso?

A vingança humana nunca pararia, mesmo que eu vivesse por centenas de anos, tentando a cada dia o que eu tentava a cada semana. Um ciclo de ódio iniciado nunca iria parar até acabar com gerações de uma família, e infelizmente se precipitar a destruir uma cidade inteira. Um ciclo de ódio inacabado poderia causar mais destruições do que uma bomba atômica, e um ciclo de ódio nunca acaba.

Era essa a razão de eu não descansar. Se essa razão valia a pena? Sim, valia muito a pena.



“Você parece tensa”, Sra. Jones comentou após pedirmos dois chocolates quentes na lanchonete a algumas quadras da minha casa. “Há algo errado?”

Eu sorri, esperando que o meu sorriso parecesse mais tranquilo e relaxado do que eu sentia estar.

“Não há nada de errado”, respondi. “Na verdade, eu estou satisfeita por a escola recomeçar logo. Confesso que senti falta dela”.

A Sra. Jones riu.

“Meu Deus, deve haver algo errado em você”, ela disse. “Isabella, eu juro que nunca ouvi qualquer adolescente da sua idade falando isso”.

“É bom ser a primeira”, sorri de volta.

Minha vizinha riu novamente.

“Agora, sobre os seus pais...”, ela disse. “Como passou as férias sem eles novamente?”

Dei de ombros.

“Já estou acostumada”, afirmei.

“Não acho que alguém da sua idade se acostumaria com isso tão facilmente”.

“Já disse que é bom ser a primeira”, dei novamente de ombros.

Ela sorriu.

“Você poderia ter viajado conosco”, comentou. “Meu marido e eu – nós não nos importamos. Você sabe disso. Ao contrário, nós ficaríamos tão felizes de tê-la conosco em nossa casa de praia na Flórida...”

“Eu imagino que sim, Sra. Jones”, eu respondi. “Mas acho que eu não me sentiria bem invadindo a sua privacidade. A sua e a do Sr. Jones”.

“Ora, não seja boba”, ela riu. “Já disse que ficaríamos felizes com você lá”.

“Bom”, respirei. “Deixa para a próxima, então.”

“Sim”, ela concordou.

Os chocolates quentes chegaram. Um líquido preto borbulhante em duas canecas brancas grandes.

“Um brinde”, a Sra. Jones ergueu sua caneca com as duas mãos. “ao recomeço de nossas rotinas”.

“É”, eu assenti. “Ao recomeço... de nossas rotinas”. Mas a minha só iria mudar. E acho que no fundo eu já sabia disso.

Prefácio

“O que espera com isso?”, eu perguntei a ela, surpresa comigo mesma por estar ali, diante de algo que eu jamais acreditara existir antes. “O que espera conseguir com vingança? O que espera conseguir dando vingança?”

Senti um calafrio por meu corpo. Ela não respondeu

“Acha que isto está certo?”, eu continuei, ignorando seu silêncio. “Acha que está certo mandar pessoas inocentes ao Inferno? Sim, porque a maioria é inocente, eu tenho certeza! E não merece ser mandada ao Inferno desse jeito, sem julgamento. Acha que tem o poder de julgar as pessoas por seus pecados?”

Ela não respondeu. Estava de costas para mim, parada a poucos passos de onde eu estava, sem se virar para mim, apenas escutando o que eu dizia.

Eu balancei a cabeça.

“Você não pensa, não é?”, eu disse. “Quero dizer, você não pensa nas consequencias disso! Você não pensa em nada!”

Ela suspirou, finalmente se virando para me encarar. Estava inexpressiva como sempre, seus olhos vermelhos hipnóticos dando a impressão de olhar diretamente a minha alma.

“Acha que eu não penso?”, ela respondeu. Sua voz era de veludo, calma, suave, e ao mesmo tempo triste e um tanto ameaçadora. Eu não sabia o que pensar daquela voz, daquele... ser. Eu sentia uma certa compaixão por ela... por aquele olhar triste, solitário...

Eu não respondi.

Ela olhou para baixo, para uma flor de lycoris caída aos seus pés, e a pegou, examinando-a por alguns instantes. Em seguida desapareceu, diante de meus olhos.


Introdução

(atenção, se quiser pular logo para a parte que interessa, que é o enredo da história, vá diretamente ao terceiro parágrafo. obrigada)

Olá, people, esse é o meu segundo blog... eu acho. Não tenho certeza ainda, malzão. Enfiim, é o meu segundo blog de histórias, e o primeiro não deu resultados, então espero que esse dê.

O primeiro foi O Morro dos Ventos Uivantes 2, e foi triste. Muito triste. Porque eu simplesmente não passei do... terceiro capítulo? Eu cheguei ao terceiro capítulo, pelo menos? Não sei. Nem quero mais saber. Talvez eu o continue, algum dia, caso a Ins chegar até mim de novo. (Ins = Inspiração; eu gosto de chamar essas coisas com apelidos =D não, eu não sou doente, mas obrigada por se perguntar).

Enfim, a Cri (Criatividade) chegou até mim novamente, então eu criei isto baseado em um anime que eu tava assistindo e que me fez pensar nas atitudes mesquinhas e egoístas de algumas pessoas ao meu redor e inclusive minhas próprias. Então, como eu já disse, eu criei isto.

É a história de uma garota chamada Isabella Walker (eu quis Samantha no começo, mas ficou como Isabella, então, pra quê mudar?) que descobre sobre um site que só pode ser acessado à meia noite em ponto, e logo no primeiro minuto da meia noite ele sai de ar. O site é chamado de Correspondência do Inferno, como no anime era Linha Direta Inferno, e apenas as pessoas com um ódio verdadeiro por outra pessoa podem acessar. O site funciona da seguinte maneira: a pessoa que o acessa à meia noite escreve o nome do odiado que deseja mandar para o Inferno e aperta enter. Em seguida, a Donzela do Inferno, uma garota de aparentemente 13 anos, de olhos vermelhos-sangue, pele pálida e cabelos negros e lisos compridos, aparece para a pessoa que acessou o site. Ela entregue a essa pessoa um boneco inicialmente preto com um laço vermelho amarrado ao pescoço e diz que, para a pessoa odiada ser mandada ao Inferno, aquela que acessou o site deve desatar o laço vermelho, e o contrato com a Donzela do Inferno será oficial. O odiado será enviado ao Inferno imediatamente. No entanto, quando uma pessoa é amaldiçoada, dois túmulos são cavados: a pessoa que acessou o site e selou o contrato com a Donzela do Inferno também irá para o Inferno, mas apenas após morrer.

Enfim, assim funciona no anime e nesta história, e assim como no anime, há uma garota que tenta impedir as pessoas de puxar o laço (é a Isabella). Descobre quem é a pessoa através de um barulho semelhante a um sino, que dispara assim que passa pela pessoa. Depois descobre, de alguma forma, por que esta pessoa chamou a Donzela do Inferno e de quem ela quer se vingar, ou seja, quem ela deseja mandar ao Inferno.
No entanto, a quantidade de pessoas que acessam o site aumenta a cada dia, e logo, ao passar pela rua, Isabella ouve tantos sinos ao seu redor que chega a passar mal. Ela nota que não irá conseguir sem ajuda. Ela já tem Peter, um garoto que conhecera na sua escola e que já fez um trato com a Donzela do Inferno em troca de mandar seu pai para o Inferno por maltratar sua mãe e tornar a vida dele e a da mãe verdadeiros pesadelos. Peter, após reconhecer a dimensão da mudança que causou no rumo da sua vida, resolve tentar ajudar as pessoas ao seu redor e sua seriedade e comprometimento nesta tarefa aumentam ao conhecer Isabella e saber sobre seu estranho “dom”.

Enfim, espero que gostem, e desculpem pela introdução exagerada que eu fiz, eu só acho que deveria haver algo explicado antes de começar a história. Os capítulos serão curtos, os nomes deles serão inicialmente estranhos e sem nexo, eu acho, mas se foquem apenas na história e nos pequenos detalhes importantes que ela traz.

Beijos e tomara que gostem.

Ana Paula B.